segunda-feira, 31 de agosto de 2009

POEMAS DE JOSÉ SARAMAGO


“ÁGUA QUE Á ÁGUA TORNA”

Água que à água torna, de luz franjada,
Abre-se a vaga em espuma.
Movimento perpétuo, arco perfeito,
Que se ergue, retomba e reflui.
Onda do mar que o mesmo mar sustenta,
Amor que de si próprio se alimenta.

JOSÉ SARAMAGO

POEMA A BOCA FECHADA

Não direi:
Que o silêncio me sufoca- e amordaça.
Calado estou, calado ficarei,
Pois que a língua que falo é doutra raça.

Palavras consumidas se acumulam,
Se represam, cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformadas,
Vasa de fundo em que há raízes tortas.

Não direi:
Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
Palavras que não digam quanto sei
Neste retiro em que me não conhecem.

Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
Nem só animais boiam, mortos, medos,
Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
No negro poço de onde sobem dedos.

Só direi,
Crispadamente recolhido e mudo,
Que quem se cala quanto me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo.

JOSÉ SARAMAGO

domingo, 30 de agosto de 2009

UM BARCO CHAMADO SONHO



A palavra mais exata,
O verso mais intenso,
O poema mais grandioso,
Ainda não foram sequer esboçados,
E para mal de todos,
Nunca serão publicados.

Tudo o que deve ser dito
Jaz no interior de cada um,
Pois tudo o que sai
Não corresponde ao querer,
Mesmo assim tentem, tentem
Fazer o que ninguém nunca fez.

Sonhem, é bom sonhar.
Agora não o façam eternamente,
Acordem, convém que o façam.
Só assim poderão construir
Os barcos que se atreverão a navegar.
Sozinhos, ou talvez não...

Sandro M. Gomes

sábado, 29 de agosto de 2009

POEMA DE MAFALDA VEIGA



Quando já nada é intacto
quando tudo na vida vem em pedaços
e por dentro me rebenta um mar
quando a cidade alucina
num luar de néon e de neblina
e me esqueço de sonhar

Quando há qualquer coisa que nos sufoca
e os dias são iguais a outros dias
e por dentro o tempo é tão voraz
Quando de repente num segundo
qualquer coisa me vira do avesso
e desfaz cada certeza do meu mundo

Quando o sopro de uma jura
Faz balançar os dias
Quando os sonhos contaminam
Os medos e os cansaços
quando ainda me desarma
a tua companhia
e tudo o que a vida faz
Em mim

Quando o dia recomeça
e a noite ainda te prende nos seus braços
e por dentro te rebenta um mar

Quando a cidade te esconde
e o silêncio é o fundo das palavras
Que te esqueces de gritar

Mafalda Veiga

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

A ROSA E O MAR



Linda doçura de gosto refinado
embelezas minha estrada, o meu caminho
com teus leves "insites" amalgamados
de amor, de ternura e de carinho.

Tuas palavras acariciam o meu ego,
teus versos me revelam o lado lindo,
tua sutileza me envolve e me desprego
das amarras da vida e do destino.

Pena não poder todo dia estar contigo
trocando nossos versos e desatinos,
mas saiba que tens aqui um ser amado

Para fazer valer teus sonhos lindos...

Finalmente, penso em você à luz da lua
deitada naquele barco que vem vindo,
naquela praia que sempre foi tua
esperas... o meu amor que vem surgindo!

Flávio
http://www.laurapoesias.com

"Meia Lua"



“ Meia Lua é a fase,
meia noite é a hora,
meio tarde é o momento,
meio triste estou agora.
Meio só, você não veio,
meio morto agora estou,
meio desgosto que me abate,
meia fé...você ligou!!!
Meio crente de sua chegada,
meio lento o tempo a passar,
meio sono estou ficando,
meio olho a te esperar .
Meio Sol já tá surgindo,
meio dia já chegou,
meia vida te esperando,
para declamar-te meu amor."

Wanderley Mendes Gomes

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

FALAR DE AMOR



Para falar de amor é preciso entender
o que sente a semente quando entra na terra
e se transforma em flor.
É preciso sentir a emoção das folhas
quando o vento beija lento suas partes mais íntimas...
E por que a árvore estremece
quando o orvalho desce pelo seu tronco áspero
fazendo carícias ousadas nos seus galhos nus.
É preciso entender a lua solitária e fria desejando o calor do sol...
É preciso entender o sol luminoso e inatingível
perdendo-se no seu brilho sem saber o que fazer.
É falar desses rios que não param nunca.
É falar desse mar que não se acalma.
É falar das estrelas que não se apagam.
É falar de tudo que é natural,
eterno e essencial para a vida...

http://picasaweb.google.com

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

POEMAS DE AMOR


1º POEMA: ASSIM É O AMOR

A lágrima azul que caiu
Num mar de amor carmim
Fez a tristeza dormir
No amor em acalanto ...
E assim o pássaro silente
De novo quis voar
Não sentia mais perda...
Pois o pássaro e a rosa
Se transformaram num só.
Assim é o amor...
Bálsamo que cura
A cor que desmancha a dor
Na lágrima que é pura.
É o arco-iris que celebra
Num poema de luz e cor!

Ivone Zuppo

2º POEMA: PENSANDO EM VOCÊ

Neste momento, penso em você
e então quisera me transformar em vento.
E se assim fosse, chegaria agora
como brisa fresca e tocaria
leve sua janela.
E se você me escuta e
me permite entrar,
em você vou me enroscar
quase sem te tocar.
Vou roçar nos seus cabelos,
soprar mansinho no ouvido,
beijar sua boca macia,
te embalar no meu carinho
Mas eu não sou vento...
Agora sou só pensamento e
estou pensando em você.

(Roberto Shinyashiki)

terça-feira, 25 de agosto de 2009

AMOR EM PAZ E FLOR BELA...


1º Poema: Amor em paz

Eu amei
Eu amei, ai de mim, muito mais
Do que devia amar
E chorei
Ao sentir que iria sofrer
E me desesperar
Foi então
Que da minha infinita tristeza
Aconteceu você
Encontrei em você a razão de viver
E de amar em paz
E não sofrer mais
Nunca mais
Porque o amor é a coisa mais triste
Quando se desfaz

Vinícius de Moraes

2 º Poema: FLOR BELA..

Ah rosa bela..
a mais bela rosa..
Mas, não a admiro,
só por ser formosa..
e de extrema beleza
mas a admiro sim,
pela sua simplicidade e nobreza,
pois do caule envolto a espinhos..
corre a mais preciosa seiva..
para revelar ao nossos olhos..
o desabrochar de sua riqueza..
de inspiradores amores..
de uma dádiva da natureza..
de amores inspiradores..
na mais bela,
dentre as flores...

(Nelson vieira)

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

CAI A CHUVA ABANDONADA



Cai a chuva abandonada
à minha melancolia,
a melancolia do nada
que é tudo o que em nós se cria.

Memória estranha de outrora
não a sei e está presente.
Em mim por si se demora
e nada em mim a consente

do que me fala à razão.
Mas a razão é limite
do que tem ocasião

de negar o que me fite
de onde é a minha mansão
que é mansão no sem-limite.
Ao longe e ao alto é que estou
e só daí é que sou.

Vergílio Ferreira

domingo, 23 de agosto de 2009

POEMA DE ALBANO MARTINS



Tu choravas e eu ia apagando
com os meus beijos os rastos das tuas lágrimas
- riscos na areia mole e quente do teu rosto.
Choravas como quem se procura.
E eu descobria mundos, inventava nomes,
enquanto ia espremendo com as mãos
o meu sangue todo no teu sangue.

Não sei se o mundo existia e nós
existiamos realmente.
Sei que tudo estava suspenso,
esperando não sei que grave acontecimento,
e que milhares de insetos paravam e
zumbiam nos meus sentidos.
Só a minha boca era uma abelha inquieta
percorrendo e picando o teu corpo de beijos.

Depois só dei pela manhã,
a manhã atrevida,
entrando devagar, muito devagar e
acordando-me.
Desviei os meus olhos para ti:
ao longo do teu corpo morriam as estrelas.
A noite partira. E, lentamente,
o sol rompeu no céu da tua boca.

Albano Martins

'A VIDA'



Só o Passado é real; o futuro, fantasma
Com que a mente dá forma à coisa inexistente.
E o minuto, que voa, e chamamos Presente
Já ficou para trás tão depressa entusiasma.

Toda a vaga ilusão que a humana ambição plasma
E supõe realizar hoje mesmo, fermente,
Lembra a sorte cruel da gota intercadente
Que mal tomba e já abriga o infusório e o miasma.

Toda vida é um Passado. O Presente subsiste
Como ideal concepção de um desejo, que insiste
Nesta glória de abrir ao sonho novas portas.

Mas a vida, em si mesma, a existência, afinal,
No Presente, fugaz, falaciosa, irreal,
Essa existe, direi, mas são as coisas mortas.

Henrique Lagden

sábado, 22 de agosto de 2009

CUMPLICIDADE



Os teus olhos são uma tentação
para quem tem a nobre ousadia
de, neles espelhando o coração,
se deleitar com a divina alquimia

Neles se encerra a doce química
que ao desesperado dá alento,
quando, já sem a força anímica,
chegado julga o último momento

Quando te olho tenho a sensação
de te conhecer há uma eternidade
e de ter sobrevivido a uma paixão

que em mim jaz e ecoa na saudade
onde o amor renasce e colhe a solidão
que no teu olhar se faz cumplicidade...

Lud MacMartinson

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

CANÇÃO



Mas agora
que eras a água em minha vertente,
eras a polpa do meu pão,
eras a sombra da minha gruta,
a resina do meu pinhal,
a asa do meu vôo esperto,
o guizo do meu manancial,
o alúmen agrário do meu horto,
a transparência do meu cristal,
doce fruto recém-mordido
que de doce me fazia mal,
voz de regresso e de partida,
mel de corola e de panal,
senda, em que meus pés se apressavam
como no imã o aço,
coração meu que em meu peito
talvez tivesse estado mal,
ponte entre Deus e a minha tristeza,
taça do céu sobre o mar,
pasto estrelado de rocios,
flor do pecado capital,
odor de sol e de caminho
num crepúsculo campestre
à sombra de um macieiral,
fina antena que me roçava,
punhal agudo que me matava,
ar, terra, canções, mar
astros da noite azulada,
sobre o horizonte polar,
eras caminho que seguir,
luz de estrelas de guiar,
e que além de conduzir
eras a terra a que chegar...

Pablo Neruda

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

"SONETO" DE ANTÓNIO BOTTO



Se, para possuir o que me é dado,
Tudo perdi e eu própio andei perdido,
Se, para ver o que hoje é realizado,
Cheguei a ser negado e combatido.

Se, para estar agora apaixonado,
Foi necessário andar desiludido,
Alegra-me sentir que fui odiado
Na certeza imortal de ter vencido!

Porque, depois de tantas cicatrizes,
Só se encontra sabor apetecido
Àquilo que nos fez ser infelizes!

E assim cheguei à luz de um pensamento
De que afinal um roseiral florido
Vive de um triste e oculto movimento.

António Botto
Imagens do Ribeirão da Ilha Floripa SC

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

ARTUR EDUARDO BENEVIDES


DA POESIA

Sim, a poesia é a verdade mágica.
É o sonho a emplumar as tardes do real.
Ou alguma coisa que chega-nos, pelágica,
ou uma palavra eterna e pastoral.
A lógica poética é a beleza
a nascer do esplendor do ser em sagração
ou ao grito terrível da tristeza.
E tudo a voar, nas almas, é canção.

Artur Eduardo Benevides

DA POESIA (I)

A poesia
é um pequenino veio nas colinas
a se espalhar por vésperas e matinas
até encontrar a solidão do mar.
E a solidão somos nós.
O mar:
o pranto o a voz
dos que Jamais puderam regressar.

Artur Eduardo Benevides

terça-feira, 18 de agosto de 2009

O AMOR AGORA


O amor de agora é o mesmo amor de outrora
Em que concentro o espírito abstraido,
Um sentimento que não tem sentido,
Uma parte de mim que se evapora.

Amor que me alimenta e me devora,
E este pressentimento indefinido
Que me causa a impressão de andar perdido
Em busca de outrem pela vida afora.

Assim percorro uma existência incerta
Como quem sonha, noutro mundo acorda,
E em sua treva um ser de luz desperta.

E sinto, como o céu visto do inferno,
Na vida que contenho mas transborda,
Qualquer coisa de agora mas de eterno.

Dante Milano

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

XLIX - PABLO NERUDA


É hoje: todo o ontem foi caindo
entre dedos de luz e olhos de sonho,
amanhã chegará com passos verdes:
ninguém detém o rio da aurora.

Ninguém detém o rio de tuas mãos,
os olhos de teu sonho, bem-amada,
és tremor do tempo que transcorre
entre luz vertical e sol sombrio,

e o céu fecha sobre ti suas asas
levando-te e trazendo-te a meus braços
com pontual, misteriosa cortesia:

por isso canto ao dia e à lua,
ao mar, ao tempo, a todos os planetas,
a tua voz diurna e a tua pele noturna.

Pablo Neruda

domingo, 16 de agosto de 2009

50000 VISITAS

UM PRESENTE QUE O BLOGGER GANHOU DA AMIGA HELÔ SPITALI.
OBRIGADO AMIGA


Como se fosse ontem, recordo a Sônia insistindo para que eu também
tivesse um blogger. Na verdade eu não queria, dizia a ela que não era
coisa para mim, que não saberia como fazer, que não seria aprovado
pelas pessoas, coisa que até hoje ainda penso...Mas, diante da
insistência, o espaço foi criado. Meu objetivo maior era ter um espaço
onde pudesse dizer à ela tudo que sinto, falar dos meus sentimentos e
do amor que carrego em mim.
O blogger caminhava a passos lentos até um dia, quando encontrei nas
minhas navegações pela internet,
um maravilhoso espaço chamado AVE SEM ASAS,
de Ana Maria Martins, isso aconteceu em 05/10/2008, um
domingo...
Gostamos tanto das poesias da Ana que começamos a seguir o espaço
dela, e, a partir dali, os amigos da Ana foram se tornando nossos
amigos também.
Hoje, com 226 seguidores, 311 espaços que eu sigo, 784 postagens,
estamos comemorando as 50 MIL VISITAS!
É hora de agradecer...agradecer a cada visitante que por aqui passou,
passa e que ainda passará. Obrigado a todos os amigos, em especial à
Sônia, que me fez ver e sentir o quanto é bom participar desse mundo
da poesia e ter amigos em todas as partes do mundo.
Republico nessa data, um poema da Ana Martins, que na época, ofereci à Sônia:

Eu sei Amor...

Eu sei amor
Que as palavras
Leva-as o vento,
O que fica
São os actos, o sentimento.

Eu sei amor
Que as palavras
Adormecem no tempo,
Mas a nossa história não finda
Nas memórias de cada momento.

Eu sei amor
Que com palavras
Já não te surpreendo,
O que te faz levitar
É o amor com que em ti me prendo.

E eu sei amor
Que sem palavras
Doces e quentes,
Os carinhos que em ti semeio
São searas em semente,
Testemunhos dos meus anseios.

Ana Martins