quarta-feira, 28 de setembro de 2011

A CONFIANÇA


Sem ti, a mente se afunda,
Minada em seus alicerces:
Feliz daquela em que exerces
Tua ascendência fecunda.

De quem te adota por guia
Quão segura a diretriz!
Sim! Feliz o que confia,
Feliz, três vezes feliz!

Mas, como o vidro, és frangível.
Não raro, a um gesto, a uma frase,
De chofre vai-se-te a base;
Cais, e, depois, é terrível.

O vidro quebrado corta
A mão que incauta o apertou...
Oh! como a confiança morta,
Coração, te retalhou!

Tudo falácia e quimera...
- Tem talvez sorte bendita
Esse que em nada acredita,
Nada esperou, nada espera.

Afonso Celso

sábado, 17 de setembro de 2011

COMO UM RIO



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Ser capaz, como um rio que leva sozinho
a canoa que se cansa, de servir de
caminho para a esperança.
E de lavar do límpido a mágoa da mancha,
como o rio que leva, e lava.

Crescer para entregar na distância calada
um poder de canção, como o rio
decifra o segredo do chão.

Se tempo é de descer, reter o dom da
força sem deixar de seguir.
E até mesmo sumir, para, subterrâneo,
aprender a voltar e cumprir, no seu curso,
o ofício de amar.

Como um rio, aceitar essas súbitas ondas
de águas impuras que afloram a escondida
verdade nas funduras.

Como um rio, que nasce de outros, saber seguir,
junto com outros sendo e noutros se prolongando
e construir o encontro com as águas
grandes do oceano sem fim.

Mudar em movimento, mas sem deixar de ser
o mesmo ser que muda.
Como um rio.

(Thiago de Mello)