terça-feira, 30 de novembro de 2010

PARA TI

Foi para ti que desfolhei a chuva
para ti soltei o perfume da terra
toquei no nada
e para ti foi tudo
Para ti criei todas as palavras
e todas me faltaram
no minuto em que talhei
o sabor do sempre
Para ti dei voz
às minhas mãos
abri os gomos do tempo
assaltei o mundo
e pensei que tudo estava em nós
nesse doce engano
de tudo sermos donos
sem nada termos
simplesmente porque era de noite
e não dormíamos
eu descia em teu peito
para me procurar
e antes que a escuridão
nos cingisse a cintura
ficávamos nos olhos vivendo
de um só amando de uma só vida.


Mia Couto
 

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Lágrima de Amor

Eu sou como a onda que não tem sossego
E levo esta vida cheia de tormentos
Esmago-me de encontro aos rochedos
Gritando assim os meus sofrimentos

Nas longas noites enluaradas
Embalada pelo cantar da sereia
Recordo bonitos contos de fadas
Sou a onda a espreguiçar-se na areia

E a gota de água que das ondas sai
E em noites tristes a deixo rolar
Qual lágrima chorada por minha mãe
Que vai juntar-se à imensidão do mar


Autora: Maria do Céu Oliveira 
 

domingo, 21 de novembro de 2010

A COR DO TEU OLHAR

Falaste comigo…
Ouvi o teu coração de mulher
A alma por vezes é assim,
A saudade é quem lhe dá instruções
E tu vieste saber do mar.

Falaste comigo…
Um momento que me levou a olhar o céu,
Uma lembrança para o resto dos meus passos,
Deixei que caíssem umas lágrimas minhas
Pingos salgados de nostalgia da praia.

Falaste comigo…
Quando eu pensava em ti
Junto do mar sentado na areia da Leirosa,
Falava na saudade de voltar ver os teus olhos,
Sem saber qual a cor do teu olhar.


osaldanossapele 

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

DENTRO DE NÓS

Uma capela
nos braços do mar
qual farol, quadro de luz,
pintado a paixão...
Testemunha cúmplice
do amor que nos une...
um ao outro.
Eternidade infinita
desse momento
gritante de sensações,
num encontro
de vontades fervilhantes
que nos enche a alma...
e nos leva para longe,
dentro de nós...

http://alquimiademim.blogspot.com/ 

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

SINTO TUA PRESENÇA


No som das águas
No canto dos pássaros
Na beleza das flores
E no balsamo que delas exalam
Posso sentir a Tua presença.

No sorriso do bebe
No colo da mãe
Na brincadeira da criança
Com seus coleguinhas
Ao admirar um sono suave
Posso sentir Tua presença.

Num sol que surge
Após uma forte tempestade
Num belo amanhecer
Com raios de sol
Ou no entardecer
Quando ele se põe
Dando lugar à lua e estrelas
Na maravilha do cosmos
Posso sentir Tua presença.

No olhar de um jovem
Que vence as drogas
Na esperança e paz
De alguém que se encontra doente
Na dedicação de pessoas
Que trabalham paras os desasistidos
Desamparados e marginalizados
Posso sentir Tua presença.

Enfim, em cada detalhe
Existente no universo
E gesto de amor
Posso Sentir Sua presença.


Ataíde Lemos

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

NUVENS

Encantei-me com as nuvens, como se fossem calmas
locuções de um pensamento aberto. No vazio de tudo
eram frontes do universo deslumbrantes.
Em silêncio via-as deslizar num gozo obscuro
e luminoso, tão suave na visão que se dilata.

Que clamor, que clamores mas em silêncio
na brancura unânime! Um sopro do desejo
que repousa no seio do movimento, que modela
as formas amorosas, os cavalos, os barcos
com as cabeças e as proas na luz que é toda sonho.

Unificado olho as nuvens no seu suave dinamismo.
Sou mais que um corpo, sou um corpo que se eleva
ao espaço inteiro, à luz ilimitada.
No gozo de ver num sono transparente
navego em centro aberto, o olhar e o sonho.

António Ramos Rosa