quarta-feira, 16 de julho de 2008

MAR


Mar!
Tinhas um nome que ninguém temia:
Era um campo macio de lavrar
Ou qualquer sugestão que apetecia...

Mar!
Tinhas um choro de quem sofre tanto
Que não pode calar-se, nem gritar,
Nem aumentar nem sufocar o pranto...

Mar!
Fomos então a ti cheios de amor!
E nem eras um campo de lavrar
Nem um corpo a gemar a sua dor!

Mar!
Enganosa sereia rouca e triste!
Foste tu quem nos veio nemorar,
E foste tu depois que nos traíste!

Mar!
E quando terá fim o sofrimento!
E quando deixará de navegar
Sobre as ondas azuis o nosso pensamento!


(Miguel Torga)

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