segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Paisagens


Passavam pelo ar aves repentinas,
O cheiro da terra era fundo e amargo,
E ao longe as cavalgadas do mar largo
Sacudiam na areia as suas crinas.

Era o céu azul, o campo verde, a terra escura
Era a carne das árvores elástica e dura,
Eram as gotas de sangue da resina
E as folhas em que a luz se descombina.

Eram os caminhos num ir lento,
Eram as mãos profundas do vento,
Era o livre e luminoso chamamento
Da asa dos espaços fugitiva.

Eram os pinheirais onde o céu poisa,
Era o peso e era a cor de cada coisa,
A sua quietude, secretamente viva,
E a sua exaltação afirmativa.

Era a verdade e a força do mar largo,
Cuja voz, quando se quebra, sobe,
Era o regresso sem fim e a claridade
Das praias onde a direito o vento corre.

Sophia de Mello Breyner Andresen

Um comentário:

Anônimo disse...

Cheguei até aqui e fiquei encantada com o que vi e li!
Ainda ñ nos conhecemos,mas acredite k só digo o k sinto.
Se ñ puder,por educação,respeito,
sei lá, fazê-lo,apenas sorrio e
pronto.
Obrigada pela poesia de Sophia!
Lindos poemas que devorei!
FELIZ 2009!
Beijo.
isa.