quinta-feira, 16 de julho de 2009

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE


1º Poema: AUSÊNCIA

Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

Carlos Drummond de Andrade
2º Poema: O AMOR ANTIGO

O amor antigo vive de si mesmo,
não de cultivo alheio ou de presença.
Nada exige, nem pede. Nada espera,
mas do destino vão nega a sentença.

O amor antigo tem raízes fundas,
feitas de sofrimento e de beleza.
Por aquelas mergulha no infinito,
e por estas suplanta a natureza.

Se em toda parte o tempo desmorona
aquilo que foi grande e deslumbrante,
o antigo amor, porém, nunca fenece
e a cada dia surge mais amante.

Mais ardente, mas pobre de esperança.
Mais triste? Não. Ele venceu a dor,
e resplandece no seu canto obscuro,
tanto mais velho quanto mais amor.

Carlos Drummond de Andrade
Imagens Lagoa da Conceição Floripa SC
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Um comentário:

José Carlos Brandão disse...

DO AMOR

O homem quis explicar o amor à luz
de pobres geometrias, insciente
das várias linhas, paralelas, curvas
que perfazem seu ser prece e serpente.

Sem o conhecimento das colunas
arquitetadas em silente mármore.
Arco elevando-se em flecha. Escultura
regada em mínimas correntes áridas,

de que o caule se crispa, transfigura
disformemente se lavrando jato
petrificado em cor e espuma e nu.

Quando se adere o mito à carne, impacto
da fusão corpo a corpo pactuando
êxtase, cicatriz, vinho de espanto.

(JCBrandão, in O emparedado, 1975)