domingo, 17 de agosto de 2008
Arlequim.
A grande sala estava constantemente vazia.
O piano, às vezes, ficava aberto
e exalava um cheiro antigo de madeira, seda, metal.
As estátuas seguravam seus mantos,
Olhando e sorrindo, altas e alvas.
E eu parava e ouvia o silêncio:
o silêncio é feito como de muitos guizos,
leves, pequeninos,
campânulas de flor com aragem e orvalho.
Quando abriam as cortinas,
pela vidraça multicor o sol passava
e deitava-se no sofá como um longo Arlequim.
Meu coração batia quase com o mesmo som
daquele relógio de cristal
que se via brilhar entre pequenas colunas
brancas e douradas.
Tudo era calmo e belo
e naquele sofá o Arlequim de luz dormia.
Cecília Meireles
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