terça-feira, 14 de julho de 2009

ANTERO DE QUENTAL


1º Poema: Versos

As flores que nossa alma descuidada
Colhe na mocidade com mão casta,
São belas, sim: basta aspirá-las, basta
Uma vez, fica a gente enfeitiçada.

Nascem num prado ou riba sossegada,
Sob um céu puro e luz serena e vasta;
Têm fragrância subtil, mas nunca exausta,
Falam d'Amor e Bem à alma enlevada...

Mas as flores nascidas sobre o asfalto
Dessas ruas, no pó e entre o bulício,
Sem ar, sem luz, sem um sorrir do alto,

Que têm elas, que assim nos endoidecem ?
Têm o que mais as almas apetecem...
Têm o aroma irritante e acre do Vício !

Antero de Quental

2º Poema: Noturno

Espírito que passas, quando o vento
Adormece no mar e surge a Lua,
Filho esquivo da noite que flutua,
Tu só entendes bem o meu tormento...

Como um canto longínquo - triste e lento -
Que voga e sutilmente se insinua,
Sobre o meu coração que tumultua,
Tu vestes pouco a pouco o esquecimento...

A ti confio o sonho em que me leva
Um instinto de luz, rompendo a treva,
Buscando. entre visões, o eterno Bem.

E tu entendes o meu mal sem nome,
A febre de Ideal, que me consome,
Tu só, Gênio da Noite, e mais ninguém!

Antero de Quental
Fotos: Gaivotas na praia da Joaquina

10 comentários:

Sonia Schmorantz disse...

As tuas escolhas estão cada vez mais especiais...lindas as duas!
beijos com amor

Olhar o mar disse...

è sempre optimo passar por aqui e ler ou reler boa poesia desta lingua que nos une.

Um grande abraço e uma onda cheia de amizade.
olharomar

Plenitude do Ser disse...

Oi Eduardo...

Passando para avisar que estou desativando o Dom das Palavras, mas vc pode continuar me visitando no Plenitude. ok?

Abraços

Everson Russo disse...

Belissimas escolhas, sentimentos profundos, amor a flor da pele, abraços amigo, tenha um dia de paz.

www.olivrodosdiasdois.blogspot.com

≈♦ Mi Sentir ♦≈ disse...

Que bello poema y las fotos hermosas muchas gracias que tengas un lindo Miercoles, un beso y un abrazo >---O---< para ti, buenas tardes

conduarte disse...

Obrigada queridão, beijos na mamis, mulher e filha ou filhos.... Boa quarta com frioooooooooooooooooooooo CON

Anônimo disse...

Perfeitos...!!
Eduardo, obrigada pelos votos, pela atenção e, mais ainda, pela amizade...
Beijos,
Ana Lúcia.

Maria Emília disse...

Amigo Eduardo,
Conheço bem praia da Joaquina. Já lá passei uns dias e recordo as gaivotas à beira mar na maré vazia. Belas fotos. Belo local esse onde vive.
Um abraço,
Maria Emília

Anabela disse...

Podem ver aqui originais de alguns poemas de Antero de Quental.

Extraordinário podermos ver o correr da letra de um poeta como Antero de Quental.

se clicarem sobre a imagem do original aprece em grande e dá para ler.

Deixo aqui o poema " os captivos" onde a sua poesia tem grande expressão em mim.


Encostados ás grades da prisão,
Olham o céo os palidos captivos.
Já com raios obliquos, fugitivos,
Despede o sol um ultimo clarão.

Entre sombras, no longe, vagamente,
Morrem as vozes na extensão saudosa.
Cae do espaço, pesada, silenciosa,
A tristeza das cousas, lentamente.

E os captivos suspiram. Bandos de aves
Passam velozes, passam apressados,
Como absortos em intimos cuidados,
Como absortos em pensamentos graves.

E dizem os captivos: Na amplidão
Jamais se extingue a eterna claridade...
A ave tem o vôo e a liberdade...
O homem tem os muros da prisão!

Aonde ides? qual é vossa jornada?
Á luz? á aurora? á immensidade? aonde?
— Porém o bando passa e mal responde:
Á noite, á escuridão, ao abysmo, ao nada! —

E os captivos suspiram. Surge o vento,
Surge e perpassa esquivo e inquieto,
Como quem traz algum pezar secreto,
Como quem soffre e cala algum tormento.

E dizem os captivos: Que tristezas,
Que segredos antigos, que desditas,
Caminheiro de estradas infinitas,
Te levam a gemer pelas devezas?

Tu que procuras? que visão sagrada
Te acena da soidão onde se esconde?
— Porém o vento passa e só responde:
A noite, a escuridão, o abysmo, o nada! —

E os captivos suspiram novamente.
Como antigos pezares mal extinctos,
Como vagos desejos indistinctos,
Surgem do escuro os astros, lentamente.

E fitam-se, em silencio indecifravel,
Contemplam-se de longe, mysteriosos,
Como quem tem segredos dolorosos,
Como quem ama e vive inconsolavel...

E dizem os captivos: Que problemas
Eternos, primitivos vos attrahem?
Que luz fitaes no centro d'onde saem
A flux, em jorro, as intuições supremas?

Por que esperaes? n'essa amplidão sagrada
Que soluções esplendidas se escondem?
— Porém os astros tristes só respondem:
A noite, a escuridão, o abysmo, o nada! —

Assim a noite passa. Rumorosos
Susurram os pinhaes meditativos,
Encostados ás grades, os captivos
Olham o céo e choram silenciosos.

Antero de Quental

A poesia de Antero de Quental oscila entre o elogio da acção e da capacidade humana e uma poesia intimista mais direcionada para a análise das angustias individuais (Antero de Quelatal suicidou-se com 2 tiros na cabeça num banco de jardim, imagino que tivesse algumas).

Desculpem mas não resisti :)

O Profeta disse...

Ao meu querer!
Dias noites, estações esquecidas
Inventei sonhos para sonhar
Lavei mágoas, dores perdidas

Uma árvore toca as águas da lagoa
O nevoeiro faz desenhos nas cumeeiras
Um Melro negro solta um pio ao acaso
A palavra quero-te diz-se de mil maneiras


Convido-te a ver a Cor da Claridade


Abraço