segunda-feira, 26 de julho de 2010

CANÇÃO



Mas agora
que eras a água em minha vertente,
eras a polpa do meu pão,
eras a sombra da minha gruta,
a resina do meu pinhal,
a asa do meu vôo esperto,
o guizo do meu manancial,
o alúmen agrário do meu horto,
a transparência do meu cristal,
doce fruto recém-mordido
que de doce me fazia mal,
voz de regresso e de partida,
mel de corola e de panal,
senda, em que meus pés se apressavam
como no imã o aço,
coração meu que em meu peito
talvez tivesse estado mal,
ponte entre Deus e a minha tristeza,
taça do céu sobre o mar,
pasto estrelado de rocios,
flor do pecado capital,
odor de sol e de caminho
num crepúsculo campestre
à sombra de um macieiral,
fina antena que me roçava,
punhal agudo que me matava,
ar, terra, canções, mar
astros da noite azulada,
sobre o horizonte polar,
eras caminho que seguir,
luz de estrelas de guiar,
e que além de conduzir
eras a terra a que chegar...

Pablo Neruda

5 comentários:

Hugo de Oliveira disse...

Gosto muito da forma com que Neruda escreve.

Boa escolha;

abraços


Hugo

Victor Gil disse...

Amigo Eduardo.
Um poeta único para fotos únicas, ou se calhar para um fotógrafo
único.
Um abraço amigo
Victor Gil

Fabricante de Sonhos disse...

Amigo,
Pablo Neruda é sempre um carinho na alma...
Tuas fotos, são sempre um carinho nos olhos e no coração.

Combinação perfeita!

Um beijo enorme, amigo!

A porta da Fábrica de Sonhos estará sempre aberta para vc!

Milla

RETIRO do ÉDEN disse...

Fotos maravilhosas...lindíssimas.
Obg.
Abraço
Mer

Tiago Braga disse...

muito bonitas as fotografias, locais lindissimos, mtos prbns alem das fotografias tens umas textos e uma escrita impecável!
se puderes visita http://tiagophotografy.blogspot.com/