terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

HOJE-VI-TE

Hoje

Senti as tuas lágrimas
Mudas, silenciosas e frias
Caindo nas minhas mãos
Em súplica de alegrias
Na mais profunda oração.


Vi
Uma a uma a nascer
E no teu rosto a descer
Sem força para as deter
Nem mesmo como fazer
Para as compreender.


Te 
Supliquei por favor
Abraça-me meu amor
Reparte comigo a dor
Juntos iremos remar
Contra as ondas deste mar.


Luíscoelho

domingo, 20 de fevereiro de 2011

JÁ ESCONDI UM AMOR COM MEDO DE PERDÊ-LO

Já escondi um Amor com medo de perdê-lo,
já perdi um Amor por escondê-lo. ...
Já expulsei pessoas que amava de minha vida,
já me arrependi por isso.

Já acreditei em amores perfeitos,
já descobri que eles não existem.
Já amei pessoas que me decepcionaram,
já decepcionei pessoas que me amaram.

Já passei...horas na frente...
do espelho tentando descobrir quem sou,
já tive já tive tanta certeza de mim,
ao ponto de querer sumir...

Já fingi não dar importância às pessoas que amava,
para mais tarde chorar quieta em meu canto...
Já acreditei em pessoas que não valiam a pena,
já deixei de acreditar nas que realmente valiam...

Já senti muita falta de alguém,mas nunca lhe disse.
Já gritei quando deveria calar,
já calei quando deveria gritar...
Já sonhei demais, ao ponto de confundir com a realidade...

Já chamei pessoas próximas de "amigo"
e descobri que não eram...
Algumas pessoas nunca precisei chamar de nada
e sempre foram e serão especiais para mim.

(Clarice Lispector)

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

SIM?

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Eu quero o teu sorriso nos meus olhos
e a cor do meu desejo no teu rosto.
O teu pensar guardado em meus cabelos,
minh'alma em teu cantar, ao mundo exposto.

Eu quero o meu silêncio no teu riso,
teu coração pulsando no meu peito;
nossos murmúrios soltos no infinito...
E a lua se aninhando em nosso leito.

Quero sentir no corpo o teu afago,
tu'alma aconchegada em meu carinho;
eu quero em nós a paz das borboletas...
E o amor a nos ninar, bem de mansinho.

Em ti quero sentir a eternidade,
que em mim ancores dores do passado;
e quando esta existência tiver fim...
Que nós a terminemos lado a lado.

Se o céu, ao meu desejo, diz amém?
Dirá, se assim quiseres tu também!

- Patricia Neme - 
http://patsolitudine.blogspot.com/

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

POEMAS DO AMIGO TOSSAN


Sentir o mundo correndo
do marasmo que se esconde
nas sombras do cotidiano.
A velocidade e o vento
esparramam adrenalina
expurgando por hora
o tédio nas calçadas
do caminho escuro
e na chegada
posso ser o vencedor.

Tossan


O desafinado assobio
do vento cantando 
a chegada da chuva 
para molhar o meu quintal
já encharcado.
Resta somente
a ave de rapina
de garras afiadas
assobiando a velha canção
em dueto com o vento
impedindo o arranjo do sol!

Tossan

sábado, 5 de fevereiro de 2011

ENTÃO É VOCÊ

Então é você
que bem antes de mim
diz o que eu queria dizer
tão bem quanto eu diria.
E quem diria?
ainda melhor

Acho que teu nome é poesia
e por isso todos te chamam

Então é você
tua simples presença
preenche a minha existência
me faz ver o que eu não via.
E quem diria?
ainda melhor

Acho que teu nome é vida
e por isso todos te querem

Então é você
que quando fala
instala a compreensão
de tudo que eu seria.
E quem diria?
Ainda melhor

Acho que teu nome é amor
e por isso todos te amam

E quando todos te chamam
quem sou eu pra não chamar?

E quando todos te querem
quem sou eu pra não querer?

E porque todos te amam
“eu sei que vou te amar”

Alice Ruiz

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

EU GOSTO


Eu gosto do asfalto molhado,
do cheiro do novo, do coração descascado,
das árvores que dançam ao relento,
do sabor do pêssego, do verso livre,
da voz poderosa e clássica do vento.

Gosto de imaginar como é a criança que mora 
naquela pequena verde casa,
onde lá pelas duas da madrugada a luz se apaga,
enquanto eu continuo escrevendo, acordada, lendo,
fumando o último cigarro, à espera do sono,
do nascer dum novo dia, e quem sabe duma outra vida,
onde eu me sinta menos perdida e dividida.

Eu gosto de abandonar velhos hábitos para criar espaço,
de dormir no calor do verão com a janela aberta,
de sentir o frescor que entra no quarto como uma nova era,
da paz que me abraça apertado neste momento sagrado,
gosto de quem passa lá embaixo, na rua vazia,
e imagina como é a criança que sonha aqui em cima.

Isadora Krieger
http://duncankrieger.blogspot.com/

domingo, 23 de janeiro de 2011

TENHO UM AMOR

Tenho um amor fresco e com gosto de chuva,
e raios e urgências.
Tenho um amor que me veio pronto.
Assim, água que caiu de repente.
Nuvem que não passa.
Me escorrem desejos pelo rosto, pelo corpo.
Um amor susto.
Um amor, raio trovão fazendo barulho.
Me bagunça.
E chove em mim todos os dias.

Caio Fernando Abreu

domingo, 16 de janeiro de 2011

É ASSIM QUE TE QUERO, AMOR

É assim que te quero, amor,
assim, amor, é que eu gosto de ti,
tal como te vestes
e como arranjas
os cabelos e como
a tua boca sorri,
ágil como a água
da fonte sobre as pedras puras,
é assim que te quero, amada,
Ao pão não peço que me ensine,
mas antes que não me falte
em cada dia que passa.
Da luz nada sei, nem donde
vem nem para onde vai,
apenas quero que a luz alumie,
e também não peço à noite explicações,
espero-a e envolve-me,
e assim tu pão e luz
e sombra és.
Chegastes à minha vida
com o que trazias,
feita de luz e pão e sombra,
eu te esperava,
e é assim que preciso de ti,
assim que te amo,
e os que amanhã quiserem ouvir
o que não lhes direi, que o leiam aqui
e retrocedam hoje porque é cedo
para tais argumentos.
Amanhã dar-lhes-emos apenas
uma folha da árvore do nosso amor, uma folha
que há-de cair sobre a terra
como se a tivessem produzido os nosso lábios,
como um beijo caído
das nossas alturas invencíveis
para mostrar o fogo e a ternura
de um amor verdadeiro.

(Pablo Neruda)

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

SUAVE

Suave é o vento que te sopra,
A seda que te cobre,
O riso que te aflora,
O olhar que em ti brilha,
E o desejo que me toma!
Suave é a noite que desponta,
A lua que já nasce,
O beija flor que se deita,
O riacho já em prata,
O silencio na mata!
Suave é tua fala que me cala,
Teu olhar que me procura,
Teu braço que me toma,
Tua boca que me beija,
Meu olhar que te deseja!


Santaroza
Publicado no Recanto das Letras em 17/04/2008
Código do texto: T950407

domingo, 2 de janeiro de 2011

AMAR

Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, 
na brisa marinha, é sal, ou precisão de 
amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto, 
o que é entrega ou adoração expectante, 
e amar o inóspito, o cru, um vaso sem flor, 
um chão de ferro, e o peito inerte, 
e a rua vista em sonho, 
e uma ave de rapina.

Este o nosso destino: amor sem conta, 
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas, 
doação ilimitada a uma completa ingratidão, e na 
concha vazia do amor a procura medrosa, 
paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor, 
e na secura nossa amar a água implícita, 
e o beijo tácito, e a sede infinita.

Carlos Drummond de Andrade

domingo, 26 de dezembro de 2010

CANÇÃO


No desequilíbrio dos mares,
as proas giram sozinhas...
Numa das naves que afundaram
é que certamente tu vinhas.

Eu te esperei todos os séculos
sem desespero e sem desgosto,
e morri de infinitas mortes
guardando sempre o mesmo rosto

Quando as ondas te carregaram
meu olhos, entre águas e areias,
cegaram como os das estátuas,
a tudo quanto existe alheias.

Minhas mãos pararam sobre o ar
e endureceram junto ao vento,
e perderam a cor que tinham
e a lembrança do movimento.

E o sorriso que eu te levava
desprendeu-se e caiu de mim:
e só talvez ele ainda viva
dentro destas águas sem fim.


Cecilia Meireles