sexta-feira, 21 de agosto de 2009

CANÇÃO



Mas agora
que eras a água em minha vertente,
eras a polpa do meu pão,
eras a sombra da minha gruta,
a resina do meu pinhal,
a asa do meu vôo esperto,
o guizo do meu manancial,
o alúmen agrário do meu horto,
a transparência do meu cristal,
doce fruto recém-mordido
que de doce me fazia mal,
voz de regresso e de partida,
mel de corola e de panal,
senda, em que meus pés se apressavam
como no imã o aço,
coração meu que em meu peito
talvez tivesse estado mal,
ponte entre Deus e a minha tristeza,
taça do céu sobre o mar,
pasto estrelado de rocios,
flor do pecado capital,
odor de sol e de caminho
num crepúsculo campestre
à sombra de um macieiral,
fina antena que me roçava,
punhal agudo que me matava,
ar, terra, canções, mar
astros da noite azulada,
sobre o horizonte polar,
eras caminho que seguir,
luz de estrelas de guiar,
e que além de conduzir
eras a terra a que chegar...

Pablo Neruda

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

"SONETO" DE ANTÓNIO BOTTO



Se, para possuir o que me é dado,
Tudo perdi e eu própio andei perdido,
Se, para ver o que hoje é realizado,
Cheguei a ser negado e combatido.

Se, para estar agora apaixonado,
Foi necessário andar desiludido,
Alegra-me sentir que fui odiado
Na certeza imortal de ter vencido!

Porque, depois de tantas cicatrizes,
Só se encontra sabor apetecido
Àquilo que nos fez ser infelizes!

E assim cheguei à luz de um pensamento
De que afinal um roseiral florido
Vive de um triste e oculto movimento.

António Botto
Imagens do Ribeirão da Ilha Floripa SC

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

ARTUR EDUARDO BENEVIDES


DA POESIA

Sim, a poesia é a verdade mágica.
É o sonho a emplumar as tardes do real.
Ou alguma coisa que chega-nos, pelágica,
ou uma palavra eterna e pastoral.
A lógica poética é a beleza
a nascer do esplendor do ser em sagração
ou ao grito terrível da tristeza.
E tudo a voar, nas almas, é canção.

Artur Eduardo Benevides

DA POESIA (I)

A poesia
é um pequenino veio nas colinas
a se espalhar por vésperas e matinas
até encontrar a solidão do mar.
E a solidão somos nós.
O mar:
o pranto o a voz
dos que Jamais puderam regressar.

Artur Eduardo Benevides

terça-feira, 18 de agosto de 2009

O AMOR AGORA


O amor de agora é o mesmo amor de outrora
Em que concentro o espírito abstraido,
Um sentimento que não tem sentido,
Uma parte de mim que se evapora.

Amor que me alimenta e me devora,
E este pressentimento indefinido
Que me causa a impressão de andar perdido
Em busca de outrem pela vida afora.

Assim percorro uma existência incerta
Como quem sonha, noutro mundo acorda,
E em sua treva um ser de luz desperta.

E sinto, como o céu visto do inferno,
Na vida que contenho mas transborda,
Qualquer coisa de agora mas de eterno.

Dante Milano

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

XLIX - PABLO NERUDA


É hoje: todo o ontem foi caindo
entre dedos de luz e olhos de sonho,
amanhã chegará com passos verdes:
ninguém detém o rio da aurora.

Ninguém detém o rio de tuas mãos,
os olhos de teu sonho, bem-amada,
és tremor do tempo que transcorre
entre luz vertical e sol sombrio,

e o céu fecha sobre ti suas asas
levando-te e trazendo-te a meus braços
com pontual, misteriosa cortesia:

por isso canto ao dia e à lua,
ao mar, ao tempo, a todos os planetas,
a tua voz diurna e a tua pele noturna.

Pablo Neruda

domingo, 16 de agosto de 2009

50000 VISITAS

UM PRESENTE QUE O BLOGGER GANHOU DA AMIGA HELÔ SPITALI.
OBRIGADO AMIGA


Como se fosse ontem, recordo a Sônia insistindo para que eu também
tivesse um blogger. Na verdade eu não queria, dizia a ela que não era
coisa para mim, que não saberia como fazer, que não seria aprovado
pelas pessoas, coisa que até hoje ainda penso...Mas, diante da
insistência, o espaço foi criado. Meu objetivo maior era ter um espaço
onde pudesse dizer à ela tudo que sinto, falar dos meus sentimentos e
do amor que carrego em mim.
O blogger caminhava a passos lentos até um dia, quando encontrei nas
minhas navegações pela internet,
um maravilhoso espaço chamado AVE SEM ASAS,
de Ana Maria Martins, isso aconteceu em 05/10/2008, um
domingo...
Gostamos tanto das poesias da Ana que começamos a seguir o espaço
dela, e, a partir dali, os amigos da Ana foram se tornando nossos
amigos também.
Hoje, com 226 seguidores, 311 espaços que eu sigo, 784 postagens,
estamos comemorando as 50 MIL VISITAS!
É hora de agradecer...agradecer a cada visitante que por aqui passou,
passa e que ainda passará. Obrigado a todos os amigos, em especial à
Sônia, que me fez ver e sentir o quanto é bom participar desse mundo
da poesia e ter amigos em todas as partes do mundo.
Republico nessa data, um poema da Ana Martins, que na época, ofereci à Sônia:

Eu sei Amor...

Eu sei amor
Que as palavras
Leva-as o vento,
O que fica
São os actos, o sentimento.

Eu sei amor
Que as palavras
Adormecem no tempo,
Mas a nossa história não finda
Nas memórias de cada momento.

Eu sei amor
Que com palavras
Já não te surpreendo,
O que te faz levitar
É o amor com que em ti me prendo.

E eu sei amor
Que sem palavras
Doces e quentes,
Os carinhos que em ti semeio
São searas em semente,
Testemunhos dos meus anseios.

Ana Martins

sábado, 15 de agosto de 2009

TEMPO E AMANHECERES...


1º POEMA: TEMPO

Nem o tempo tem tempo
Para sondar as trevas
Deste rio correndo
Entre a pele e a pele
Nem o Tempo tem tempo
Nem as trevas dão tréguas
Não descubro o segredo
Que o teu corpo segrega.

David Mourão Ferreira

2º POEMA: AMANHECERES PERFEITOS...

Deixa-me sonhar contigo
amanheceres perfeitos...
luz de primavera que renova
todo o seu esplendor
todo o seu aroma e cor
tudo que de afrodisíaco
inflama o corpo e o
imediato desejo de te possuir...

http://latitudes.blogs.sapo.pt/

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

NO MEIO DAS PALAVRAS



Quando, nos lábios, começa um continente,
suspenso no apelo líquido dos beijos,
há um barco que cresce nos meus olhos
e, entre búzios verdes, escrevo água.

Nunca a brisa se demora entre as dunas,
onde os barcos navegam sobre a espuma.

Tudo é secreto, se maio se repete
nas marcas da pureza recusada.

Um rosto ou um rio me fascinam,
quando a raiva e o sossego
me revelam a nascente e,
no meio das palavras,
procuro apenas um gesto
ou uma sombra.

Luciana Abait

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

AS MÃOS, OS BARCOS, O OLHAR



No verão, os mastros têm o brilho
intenso do sal e da água.
E são como as tuas mãos :
levemente inquietas,
levemente acesas,
levemente inocentes.
Não sei o que procuro nos teus olhos.
Talvez uma pretérita adolescência.
Ou um mar.
Ou um barco feito às ondas.
O que digo pode parecer paradoxal.
Encostada ao passado,
o coração tornou-se-me tão frágil
e, simultaneamente tão cruel.
Mas os teus olhos,
os teus olhos perpetuam nos meus
a claridade das manhãs,
a chegada dos pássaros
e este estranho fascínio de te amar.

Edouard Boubat

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

DESEJO E ASSIM É O AMOR


1 Poema: DESEJO

Fui ver o pôr-do-sol
As ondas do mar
Fui e encontrei
Em cores de arco-íris
Com que sonhei
O teu amor.
Fui e encontrei
A tua vida.
Era noite
Olhei teu manto
De virgem
De natureza pura
E a única loucura
Que encontrei
Foi o luar
Que te beijava com ternura.

Rogério Martins Simões

2º Poema: ASSIM É O AMOR

A lágrima azul que caiu
Num mar de amor carmim
Fez a tristeza dormir
No amor em acalanto ...
E assim o pássaro silente
De novo quis voar
Não sentia mais perda...
Pois o pássaro e a rosa
Se transformaram num só.
Assim é o amor...
Bálsamo que cura
A cor que desmancha a dor
Na lágrima que é pura.
É o arco-iris que celebra
Num poema de luz e cor!

Ivone Zuppo

terça-feira, 11 de agosto de 2009

OUTONO



Talvez nunca a ternura fosse tanta
como entre os montes amadurecidos
e quando as casas se elevam
entre o ouro e o fumo da tarde.
Silêncio que parece vir do lento
passado,
vozes que se dão em resignada melancolia
e tomam a forma dos frutos,
vinho e sombra que apagam o mar
nas árvores
onde não tardará o abandono,
memória do que somos.
Repousam sobre a noite os grous
enquanto as cidades crescem à nossa volta
contra o sul vencido.
Vento, ramo e sombra que caem
sobre as janelas ardentes:
lá onde a púrpura se reclina
sobre a água e a beleza
a verdade começa a surgir da espuma.

(Poema de Henrique Dória)

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

EM VIAGEM!


Nas cinzas caídas de um toque,
aquele em que a minha mão se estende
e percorre o teu rosto.
aquele em que o meu olhar se perde
e mergulha no teu olhar.
aquele em que os meus lábios se diluem
e nadam no teu corpo.

nas amarras esquecidas de um beijo,
aquele que não se esquece, o primeiro
e que navega pelas memórias da paixão
aquele em que os nossos lábios se entregam
e desnuda os nossos corpos
aquele que apazigua os nossos desejos
e revela o nosso amor!

ai! fossem essas cinzas as tuas mãos
ai! fossem essas amarras um abraço!
que me fizessem sentir-te aqui
nesta trémula viagem
em que percorro os sonhos
num barco de papel!

Bruno Ribeiro

domingo, 9 de agosto de 2009

PASSAROS E PEDRAS


Pássaros e pedras não podem caminhar juntos!
As pedras criam poeira e musgos;
os pássaros são visgos no ar.
As pedras são rudes, organizam muros;
enquanto os pássaros roçam mundos,
atravessam virtudes.
Pássaros e pedras são únicos,
jamais serão unos.
Como ciscos nos olhos, as pedras riscam;
os pássaros batem pálpebras, aliviam o olhar.
Com pedras se constroem prédios;
a partir de árvores, aprende-se a voar.
Pássaros e pedras nunca estão no mesmo lugar!
Uma pedra no ar agride o azul;
um pássaro dá asas ao sol.
As pedras no caminho lapidam-se em espanto;
os pássaros – companheiros do vento –
aliam-se ao seu instinto.
As pedras não alcançam os pássaros
e rendem-se à gravidade da Terra
caindo sobre suas próprias pernas;
os pássaros avançam acima das pedras
alcançam espermas
irradiam óvulos
e sucumbem à vida eterna!

João de Abreu Borges

sábado, 8 de agosto de 2009

ALMA SONHADORA


A minha alma tem o poder do amor
Da paixão da música,e palavras
Tem o poder da esperança,da criança
Uma chama de calor,que ilumina

O caminho! me fez correr,seguir destino
Ilumina meus paços,abraços tem força
Me afasta da solidão do mal, escuridão
A minha alma tem a força do abraço

Sincero e terno,do encantamento dum olhar
Do simples cantar,do passaro da água
Que corre no rio, da neve do frio do luar
Como de um belo desfolhar de uma flor

Lisa/estrelapoesia

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

NORBERTO KAWAKAM


Quando olho para o céu
me vem a lembrança nostálgica
dos tempos em que sonhava.
Viajava entre as estrelas
e descobria novos mundos.

Hoje, eu percebo, não sonho mais.
Olhando para cima penso
apenas nos milagres que não
mais presenciarei quando partir.

Agora me atenho à minha volta.
Quero aproveitar o que perdi.
Viver o que não vivi.

(Norberto Kawakam

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

SEU OLHAR, MEU MAR


Seus olhos
São como dois rios
de águas cristalinas
Que correm sem parar
Rumo ao oceano de amor
Nesse oceano de amor
Onde as ondas se elevam
Reluzem transparente
Qual diamante lapidado
Sinto em meu coração
Essas ondas baterem
com esperança
E nesse mar tempestuoso
Somente seu amor
Me deixa esperançoso
Estrelas surgem no céu
E são de um azul profundo
Trazendo calma e paz
para meus sonhos
Seus olhos
transmitem uma beleza infinita
E nessa madrugada tranqüila
Quando em seus olhos olhar
Verei que são como dois rios
Que correm de encontro ao mar

Osmar Galani
Imagem: Por do Sol na Lagoa

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

O VENTO


O vento é hóspede constante
maior viajante
que por aqui passa...
quando chega
me abraça
se sente em casa
repousa suas asas cansadas
sobre meu corpo em brasa...
Minha casa
não tem divisórias
todos os cantos
contam histórias
de amores para mim...

Minha casa é assim
janelas abertas
sem vidraças
portas escancaradas
para meu vôo sem fim

Cida Sousa
Imagens Ribeirão da Ilha

terça-feira, 4 de agosto de 2009

O MAR E AMO-TE


1º POEMA: O MAR

O mar rumoroso que trago em mim,
um mar de sal e conchas que talham os pés,
um mar de areias, poeira, moluscos enterrados.
Te envio o mar que trago nas mãos e
desfio pérolas em contas de lágrima,
alívio, vento no rosto, maresia e iodo, coral.
Te envio o mar que trago nos olhos, ardidos,
cheios de terra, ondas e espuma,
um mar que pode estar perto de ti,
ainda que estejas longe dele.
Te envio o mar que trago na boca,
salitre, sol, palavras fugidias
que não escutarias com a rebentação.
Te envio o mar que faço em mim.

Patrícia Antoniete

2º POEMA: AMO- TE

Amo-te como a planta que não floriu e tem
dentro de si, escondida, a luz das flores,
e, graças ao teu amor, vive obscuro em meu corpo
o denso aroma que subiu da terra.

Amo-te sem saber como, nem quando, nem onde,
amo-te diretamente sem problemas nem orgulho:
amo-te assim porque não sei amar de outra maneira,

a não ser deste modo em que nem eu sou nem tu és,
tão perto que a tua mão no meu peito é minha,
tão perto que os teus olhos se fecham com meu sono.

Pablo Neruda

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

A IMAGEM NO ESPELHO


Olhar no espelho,ver uma imagem
refletida...imagem que te olha e te sorri
mostra uma mulher madura feliz...
característica de estar de bem com a vida.

Dos seus olhos emanam uma luz...
um brilho intenso...
me fixo no seu olhar...me olho....
paro..analiso...me vejo.

O espelho mostra , não uma adolescente
mas uma mulher madura, sorridente
em paz consigo mesma...em paz com
a vida,que lhe sorri docemente.

O que serão esses sinais ali refletidos?
Rugas?...marcas do tempo?...
Saudades...dores?..
ou somente prenuncio de um novo
tempo...de uma nova vida?...

Um tempo, marcado pela confiança
pela esperança..de um caminho florido
um caminho sem voltas
ao mundo dos sofrimentos.

A cada momento, cresce dentro de mim
a renovação, a mudança que estou buscando
que busquei uma vida inteira...mas finalmente
encontrei a paz, que tanto sonhei.

...Essa paz veio de mim,veio de você
não importa os sentimentos...
o que importa agora realmente,são
os momentos que estarão sempre presentes.

Firmados numa proposta muda
de um coração antes, doente,carente
hoje cheio de vida...de buscas
de um futuro que será sempre presente...
o presente de ser feliz e viver a vida
loucamente...profundamente...
intensamente...apaixonadamente!

ARNEYDE T. MARCHESCHI

domingo, 2 de agosto de 2009

SONHEI COM VOCÊ


Sonhei com você lá nas nuvens...
você estava tão linda rodeada de anjos
e sorria para mim...
Seus olhos irradiavam felicidade...ternura..
No silencio ouvi você cantar a nossa canção
e uma grande paz inundou meu coração.
Senti que você está bem...está em paz
está tranquila...sem medos...
e nessa plenitude meu coração se aquietou
me tranquilizei...
Te senti serena em meio as estrelas
e dentro de mim
uma grande luz se fez presente
No meio das estrelas
você desapareceu deixando um rastro
de luz,formando uma frase...eu li...
e chorei de emoção estava escrito:
Eu te Amo!

ARNEYDE T. MARCHESCHI

sábado, 1 de agosto de 2009

UNICIDADE


Amor, medo,
Não, eu não devo ter medo de amar,
Devo sim, ter medo de odiar,
De ferir, de as pessoas magoar.
Amor, medo,
Não devo ter medo de amar,
Devo ter medo de destruir,
Medo de mentir.
Amor, medo,
Devo em verdade ter medo
De quando não dou a mão,
De quando não divido o pão,
De quando não dou meu braço,
Num puro abraço.
Amor, medo,
Não devo ter medo de amar,
Devo ter, verdadeiramente,
Medo de sentir medo de amar,
Pois o amor doado
É o caminho para o meu reencontro
Com a divindade que existe em mim e
Com a Divindade que me criou,
Que a todos criou para amar,
Para viver o amor sem medo,
Em unicidade.

Moacir Sader